As Comunidades Terapêuticas (CT´s)
- arsanjopaul
- 3 de dez. de 2012
- 6 min de leitura
O livro de Frederich B. Glaser: “As origens da Comunidade Terapêutica sem drogas: uma história retrospectiva”, defende a idéia de que elas existem há mais de dois mil anos.
Uma comunidade de essênios em Qumran, que reunia pessoas com “problemas da alma” (temores, angústias, descontroles emocionais, paixões desvairadas), tinha uma “Regra da Comunidade” ou “Manual de disciplina”, muito parecido com as normas existentes em nossas Comunidades Terapêuticas.
Mais tarde movimentos registrados na Inglaterra e nos EUA (Grupos Oxford, A.A., Synanon e Day Top), apresentavam todos uma clara motivação ética e espiritual e, até hoje, influenciam uma parcela considerável de CT´s em todo o mundo.
Em 1953 o psiquiatra escocês Maxwell Jones propôs o que foi denominada de “3ª Revolução na Psiquiatria”.
A CT proposta diferia em tudo dos hospitais psiquiátricos então existentes. Estes apresentavam uma estrutura rigidamente hierarquizada e que atuava de modo autocrático. Havia muito pouca comunicação entre as pessoas dos diferentes níveis e uma passividade dos residentes, mantidos na ignorância do que se passava ao seu redor e, principalmente, em relação ao seu tratamento.
A proposta de Maxwell Jones, realmente revolucionária, era a de democratizar essa estrutura diminuindo drasticamente a separação entre os diferentes níveis, estimulando a comunicação entre todos os membros, incluindo todos (inclusive o ambiente) no processo terapêutico, fazendo com que os residentes participassem da condução do dia-a-dia da CT. As Assembleias Gerais com a participação dos residentes, todos com o direito de perguntar e de expor suas idéias, garantiam a manutenção dos objetivos propostos.
Os resultados alcançados foram bons, mas a prática indicou algumas correções de rumo, sem prejuízo das diretrizes básicas.
Maxwell Jones havia ressaltado a participação ativa dos residentes na própria terapia, a comunicação social democrática e igualitária, o envolvimento de sentimentos, permitindo a redução de tensões sociais.
Elena Goti, em 1997, lembrando que a CT não se destina a todo tipo de dependente, diz que ela deve ser aceita voluntariamente e que o residente é o principal ator de sua cura, ficando a equipe com o papel de proporcionar apoio e ajuda.
George De Leon, em 2000, enfatiza que a CT é uma abordagem de auto-ajuda, fora das correntes psiquiátricas, psicológicas e médica. Fala sobre a natureza terapêutica de todo o ambiente, sobre sua grande flexibilidade, no enfoque da pessoa como um todo e diz que é um processo a longo prazo, que deve resultar em mudança pessoal e no estilo de vida. Finalmente, adverte sobre o perigo de serem introduzidas práticas que contrariem a essência da proposta da CT.
A CT para o dependente químico, graças à sua grande flexibilidade tem sido adotada em países com diferentes formas de governo, de culturas diversas, de vários graus de desenvolvimento e de religiões diferentes.
Quando seus princípios básicos são respeitados os resultados obtidos são bons, o que explica sua multiplicação constante em todos os continentes. Fonte: FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas
Ao longo dos anos, as CT´s vem evoluindo e adequando-se as novas realidades, buscando assim oferecer os melhores serviços. Residir numa CT é uma das formas (não é a única) de conseguir permanecer longe das drogas e dos riscos que o dependente corre se estivesse em casa ou na rua.
Já foi tema de outro artigo nesse mesmo espaço que a CT não é para todos, pois há diferentes tipos de serviços (as pessoas são diferentes e necessitam de tratamentos diferentes).
Muitas pessoas, infelizmente, não conseguem mais conviver no meio com as drogas e precisam “se afastar” temporariamente para conseguir retomar a administração de sua própria vida e aquelas que conseguem ainda perceber essa necessidade são convidadas a permanecer residente de uma CT pelo período que desejar ou em comum acordo com a equipe técnica, em média esse período é de seis meses. Esse prazo já foi comprovado que é o mais adequado para essas pessoas pois parar de usar drogas é uma coisa, aprender a ficar sem ela é outra e isso não acontece em alguns dias. As CT´s acolhem pessoas que voluntariamente se propõe a participar de um tratamento com regras e metodologias claras desde sua intenção de residir na CT, nada é obscuro, tudo gira em torno da transparência, se a pessoa aceitar as condições da CT permanece e se não aceitar não tem a obrigação de permanecer, pois ela é livre. A CT também não é um trabalho “religioso” e se alguma CT tem alguma orientação nesse sentido o candidato a residente tem a opção de aceitar ou não a proposta, pois caso não se identifique, pode procurar outra CT que melhor irá adequar as suas expectativas.
Diferente do que, alguns ainda possam pensar, a CT não é lugar de castigo físico ou moral, não tem grades ou muros, não pune, mas educa. E educa para a vida, para novos hábitos e costumes, alguns que talvez nunca foram apreendidos ou ensinados a essas pessoas, por diversos fatores.
Podemos citar como exemplo o caso de um casal, dependente de crack em Jaraguá do Sul, que chegou num serviço publico pedindo ajuda, queriam para parar de usar a droga, pois conforme relatos dos mesmos, não conseguiam parar sozinhos e não queriam voltar para sua casa pois todos os dias aquele lugar era local de uso de outros usuários de drogas. Voluntariamente se propuseram a fazer um tratamento (a pedido deles) chegaram a situação de quase desespero, pediram ajuda, mas infelizmente a atendente pela inexperiência informa a esse casal que “eles não precisam se internar”, basta vir no serviço durante o dia que já é o suficiente. Eles insistem, dizem que não conseguirão, pois a vontade do uso é maior e não depende só deles mas dos outros que levam a droga para eles em troca do uso da casa, a noite e nos finais de semana é mais intenso essa situação, mas o serviço ofertado não funciona nesses períodos e mesmo assim não há um encaminhamento adequado. Mais tarde esse casal procura um grupo de mutua ajuda, conta a mesma história, choram, querem parar e sabiamente o coordenador os encaminha para uma CT (ele para uma masculina e ela para uma feminina) e felizmente estão livres das drogas e apreendendo na CT a reconstruir suas vidas de maneira saudável e correta. Esse casal é apenas um exemplo de pessoa para fazer tratamento em CT. Querem parar, não conseguem sozinhos e não podem voltar para seu meio, precisam se retirar por um tempo.
Hoje dentro das CT´s há aulas de artes, de musica, de teatro, de informática, psicoterapia individual e em grupo, atendimento sócio assistencial, atividades esportivas, a família interage com seu residente e tudo isso sem muros ou grades, se há algum tipo de proteção não é para os de dentro não saírem, mas os de fora, mal intencionados não entrarem, por isso do cuidado e da responsabilidade da equipe para com aqueles que estão na CT.
Existem algumas CT´s que ainda buscam se adequar, tem dificuldades, lutam e querem melhorar, mas com a total falta de incentivo e total descaso governamental ainda sobrevivem pela solidariedade da comunidade. Algumas CT´s infelizmente desvirtuam a proposta inicial e trilham caminhos diferentes, mas em todos os segmentos há os bons e os ruins e não seria diferente nesse, o que não se pode é generalizar o trabalho de todos pela diferença de alguns. Diferente seria se o governo olhasse para esse serviço como parceiro e não como “ameaça”, como alguns ainda o veem. Muitas vidas e muitas famílias seriam ajudadas, falta comprometimento e amor por parte dos nossos governantes com a população, pois se o tivessem há tempos já teriam enaltecido o excelente trabalho das comunidades terapêuticas e contribuído para que mais pessoas tenham a oportunidade. Atualmente o conselho federal de psicologia tenta desvirtuar as informações dizendo que se o governo financiar vagas é para as CT´s “ganhar” dinheiro publico, mas quem é de CT não fica rico, mais tira dinheiro do bolso do que recebe, muitos sacrificam seu patrimônio pessoal e muitas vezes sua família em prol de vidas que clamam por socorro e não tem onde recorrer, quem é de CT não tem hora, todo dia é dia de trabalhar e ajudar. Pergunte a quem é de CT o quanto eles ganham e verás que é muito pouco pelo muito que o fazem, mas o amor e a vontade de ver aquele ser humano residente, dar certo é maior e isso que faz a diferença nesse trabalho, porem sem dinheiro não há como comprar alimentos, pagar energia, aluguel, impostos e muitas outras necessidades diárias que uma CT tem para cuidar bem dos seus residentes, precisa de apoio governamental e de toda sociedade.
A CT é uma casa saudável onde as pessoas têm a oportunidade de reaprender ou aprender coisas novas e tem dado excelentes resultados. Milhares de pessoas pelo mundo, que fizeram tratamento em CT, empresários, políticos, médicos, psicólogos, padres, pastores, pais, mães, filhos, hoje podem “tocar” suas vidas sem drogas e com muita motivação pois descobriram ou redescobriram uma Vida Nova. Conheça nesse site a história de algumas dessas pessoas: http://www.accte.org.br/blog/?page_id=232 Fique bem informado sobre o assunto, acompanhando semanalmente também essa coluna!
Na próxima semana traremos mais importantes informações. Compartilhe-as com seus filhos, pais, amigos, familiares, na sua escola e empresa. Quanto mais pessoas souberem disso, mais prevenção faremos! Conte conosco, nós contamos com vocês!
Grande abraço e até a próxima!
Comments